Quem seria capaz de motivar a reunião de mais de 1.500 pessoas em uma noite de inverno em pleno centro da cidade de Laguna? Fernando. Que nasceu em uma família nobre, ainda que longe daqui, em Lisboa, por volta de 1195. Com formação inicial no convento de São Vicente, e posteriormente, de Santa Cruz, em Coimbra, seguindo, em ambos os conventos a regra de Santo Agostinho. Nestes dois templos do saber, começou a manifestar sua vocação e o empenho no estudo da Sagrada Escritura e nos ensinamentos dos padres e Doutores da Igreja. Um dia, este mesmo homem, que virou santo, ganhou o nome de Antônio, e que constantemente marca a vida de grande parte dos lagunenses, não apenas por ser o Padroeiro, mas por consagrar-se como verdadeiro desatador de nós de seus inúmeros fieis. Se o clima de junho anuncia a chegada da festa de Santo Antônio, este ano, em especial, a Igreja Matriz e seu pároco, Pedro Damazio, proporcionaram aos lagunenses e moradores de cidades vizinhas uma preparação religiosa para o importante evento que se inicia amanhã (1°), a tradicional festa dedicada ao santo. Idealizada pelo Pároco, a jornada de oração, a qual cada fiel desatava um nó do “cordão” teve seu encerramento na última terça-feira (28), completando 13 semanas seguidas. A resposta de todo este sucesso veio através dos números. Enquanto as missas da manhã e da hora do almoço (idealizada em virtude do grande público) lotavam a Matriz, a da noite, mais precisamente das 19h, teve de ser transferida para o Centro Cultural, já que a igreja ficaria pequena para o grande número de fiéis, estimados em mais de 1.500. Durante o encerramento, realizado na última terça (28), Padre Pedro mostrava-se contente com o resultado: “Encerro esta jornada com a sensação de dever cumprido, mas na certeza de que ainda há muito a ser feito. As missas nunca mais serão as mesmas, assim como a terça-feira dos fiéis também terá um espaço a mais dedicado a oração. Meu desejo é ter a Igreja Matriz tão cheia e o povo tão repleto de fé durante todo o ano”, confidencia.
A vida de Fernando
Um acontecimento em especial tocaria a vida do jovem Fernando. No ano de 1220 foram expostas as relíquias de cinco missionários franciscanos que tinham entregue sua vida por amor a Cristo, no Marrocos. Neste momento brotava no coração do português uma vocação franciscana, suscitando o desejo de “imitar” aqueles mártires e abraçar o caminho da perfeição cristã como Frade Menor. Tendo sido aceito seu ardoroso pedido, tomou o nome de Antônio. Em seguida, partiu para o Marrocos, onde pretendia realizar seu desejo de pregar e ser mártir da Fé. Mas Deus teria outros caminhos reservados a Fernando. Atacado por uma doença foi obrigado a viajar para a Itália, a fim de se tratar. Um ano depois, quando era realizada a convocação para reunião geral da Ordem, teve a alegria de encontra-se com São Francisco, seu santo fundador. Depois de um convívio abençoado com seu Pai espiritual, Antônio foi para o norte da Itália, num convento próximo à cidade de Forli. Ali, no silêncio e na oração, Deus foi modelando sua inocente alma. Até que, chamado de improviso, para pregar no dia de uma ordenação sacerdotal, brilharam os dons que Deus havia lhe dado. Tal foi a aprovação dos ouvintes, que a partir deste momento, seus superiores o destinaram à pregação da palavra de Deus. Itália e França foram os campos nos quais Antônio começou a pregar. Muitos que tinham se afastado da Igreja, receberam a graça da conversão ao ouvir suas palavras cheias de unção espiritual. Foi também designado mestre de Teologia e começou a ensinar em Bolonha, recebendo de São Francisco uma breve carta com a seguinte abertura: “Agrada-me que gostes de ensinar Teologia aos frades”. Abria assim o caminho que seria trilhado por muitos outros teólogos da Ordem Franciscana, entre os quais o grande São Boaventura. Como diria os versos da canção “os bons morrem jovens”. Em 13 de junho de 1231, próximo a Pádua, veio a falecer. A região, que já o tratava com afeto e veneração, após sua morte, passou a lhe manifestar grande devoção e guardar suas preciosas relíquias. Tantos foram os milagres atribuídos à sua intercessão, que sua canonização deu-se em 1232, apenas um ano após sua morte. O Papa Gregório IX, que tinha intitulado Antônio, ainda vivo, como “Arca da Aliança”, agora o elevava à honra dos altares.
Os milagres
Muitos forma os milagres já registrados por intermédio de Santo Antônio, que ficou conhecido perante a comunidade católica como o “Santo dos Milagres”. Na Itália ou na Alemanha, na Espanha ou na França, e em todos os lugares onde esteve, em especial na cura de doentes. Entre os registros mais marcantes, estaria o ocorrido na França, na região de Toulose, no qual a mula se prostra ante o Corpo de Cristo na Eucaristia, desdenhando o alimento que lhe era oferecido. Santo Antônio venceu o incrédulo que rejeitava o Santíssimo Sacramento, e que assim se converteu. Em outra oportunidade, tendo um jovem confessado ter dado um ponta-pé na própria mãe, o que o levou a cólera, Santo Antônio teria dito: “ Teu pé bem merecia ser cortado”. Horrorizado com o que fizera, o praz realmente cortou o próprio pé. A mãe o socorreu e implorou ao Santo um milagre. Atendendo ao pedido da aflita senhora, o Santo recolocou o pé em seu lugar e, imediatamente, ficou ele restaurado, de modo tão perfeito como se jamais tivesse sido amputado. Restou apenas uma pequena cicatriz, para atestar a graça.
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