“Se não for para nos tornarmos pessoas melhores agora, quando será?”. A reflexão partiu da advogada Karolliny Reinol da Silva, focalizada da coluna desta edição, que integra o “Doadores de Amor”, grupo de voluntários lagunenses que estão engajados em levar alimentos aos que mais precisam neste momento de dificuldade e incertezas.
Aos 32 anos, filha de Maria Christina e do saudoso Francisco, a lagunense recorda como tudo começou: “No início da quarentena, um grupo de voluntários, composto por alguns funcionários da Prefeitura, outros de fora, reuniram-se na sede da Secretaria do Turismo, com o intuito de ajudar a Assistência Social do município a arrecadar alimentos e distribuir às famílias carentes. Foi solicitada doação de alimentos no grupo da OAB e foi nesse momento que pensei ser útil. Avisei que arrecadaria diretamente com cada colega advogado e entregaria. E desde então não parei mais”, explica.
Após a pasta receber as cestas básicas, através da verba pública, a Assistência Social acabou seguindo em frente com o cadastro e com as entregas, mas o espírito de voluntariado permaneceu no grupo de origem: “Surgimos através da vontade de continuar ajudando. Nos reunimos com a necessidade de criar um grupo próprio de voluntários, com todos os tipos de profissionais, que se dedicariam a ajudar o próximo. Chego a me arrepiar só de lembrar. Entramos de cabeça no projeto, conseguimos uma sede provisória, nas Damas de Caridade que estavam de quarentena. Agora estamos nos mudando para a antiga sede da Rede Feminina de Combate ao Câncer, provisoriamente também. O projeto é recente, não temos recursos a não ser próprios, então, contamos com a generosidade de muita gente. Mas posso adiantar que os Doadores de Amor nasceram em um momento de incerteza (mundial), mas é um projeto certo. O que nasce do amor não pode ter fim”.
No que tange o pessoal da focalizada, ela recorda que praticava o voluntariado, mas não de forma tão intensa como hoje: “ Achei que ajudava e fazia minha parte quando lá uma vez ou outra doava alimentos para uma família que precisava, ou dinheiro para alguma instituição. Quando morei em Florianópolis cheguei a procurar alguma entidade que precisasse de ajuda. Mas o voluntariado é um chamado, só pode. Como falei antes, houve um pedido de ajuda no grupo da OAB, e chamei para mim a responsabilidade de, junto aos colegas advogados, arrecadar alimentos. E uma coisa levou a outra. Brinco que não posso “desver” o que já vi, só esse motivo é suficiente para continuar esse projeto lindo de doação de amor”.
Sobre o profissional, Karol possui especializações em Direito Penal e Processo Penal e cursa especialização em Direito Previdenciário: “Desde que me entendo por gente quis cursar Direito. Sempre fui uma defensora nata dos direitos de cada um, e repudio qualquer tipo de injustiça. Brincava quando pequena que era a defensora dos fracos e oprimidos. Cursei Direito por vocação. Mas acredito que tudo é questão de oportunidade e tempo certo”.
Quando questionada sobre a generosidade do povo lagunense, avalia: “Somos uma cidade generosa e isso também me motiva. Nunca duvidei da nossa capacidade de fazer o bem, e cada dia, acredito mais nisso. Até porque, diante dessa quarentena, temos muitas entidades pedindo ajuda. As pessoas ajudam mais de uma vez e mais de uma instituição. E isso me faz ter mais esperanças ainda no amanhã, e de que sairemos disso muito melhor do que entramos”.
Entre um dos momentos que mais lhe marcou até agora, cita um deles: “Se posso escolher algo que me marcou demais, e daí não quero falar das partes tristes e sim das felizes, foi nossa ação de Páscoa. A ideia surgiu na sexta-feira e sábado à noite tínhamos tudo organizado. Foi uma operação de 24h. No domingo, olhando aqueles rostinhos sorrindo e agradecendo, nossa, fez tudo valer a pena! Cada minuto. Nunca vivi aquilo. Não sabia se dirigia, chorava ou sorria (por debaixo da máscara). O sorriso de uma criança deveria ser a maior força propulsora de amor do universo”.
Aos interessados em ajudar, ela manda o recado: “Temos uma conta no Instagram @doeamorlg, e a mesma página no Facebook. Nossos telefones estão à disposição. Nos disponibilizamos a recolher as doações na residência do doador, ou nos supermercados. Tentamos ao máximo facilitar a forma de doar. Nossa maior demanda é comida e fraldas, mas se eu tiver que escolher, doem alimentos. Temos um lema, distribuir todas as cestas que recebemos, no mesmo dia. Se vamos embora e deixamos uma cesta sem entregar, é uma família que pode não jantar. Então tudo o que chega, sai imediatamente. Tem dia que as entregas vão até 23h. Percebo que agora as doações diminuíram, o que é compreensível, mas peço que continuem ajudando. Se cada casa dessa cidade nos desse apenas um kilo de alimento, ajudaríamos muita gente”.
Paralelo ao trabalho e o voluntariado, nas horas de folga ela procura fazer o que mais gosta: “Amo viajar. Se pudesse viveria de viajar. Conhecer o mundo é viciante, mas atualmente uma paixão temporariamente suspensa da minha vida, mas com esperança de retomada. Fora isso, sou bem dedicada ao meu noivo, Carlos, à família e amigos. E amo estar com meu afilhado, Júlio César, abraçá-lo e ouví-lo me chamando de “dedi”, isso me faz realmente feliz. Tenho sofrido com esse distanciamento social. Mas cuidado e zelo também é uma forma de amor. Tento pensar assim e sofrer menos”.
Para o futuro, prefere não fazer planos: “Diante do que estamos passando, acho que estou aprendendo a viver o hoje. Um dia de cada vez. No momento diria que meus planos são: viver e sobreviver a esse 2020! E me tornar alguém melhor, a cada dia”.
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