Uma casa para contar as histórias da cidade. Em Laguna, a população irá conhecer hoje, 5, às 9h o resultado da restauração da Casa Candemil, em obra realizada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), que recuperou todo o espaço da edificação que sedia hoje o Arquivo Público Municipal. Com investimentos de aproximadamente R$ 1 milhão, advindos do PAC Cidades Históricas, o edifício que é um dos representantes da arquitetura da cidade, passa a ter toda a estrutura necessária para receber moradores e pesquisadores da memória do local.
Além da obra, parte dos recursos estão sendo investidos na catalogação e restauração do acervo arquivístico e na aquisição de um novo mobiliário, em ação que completa a preservação desse importante representante do Patrimônio Cultural de Laguna.
A presidente do Iphan, Kátia Bogéa, acompanhada pelo diretor Robson de Almeida, do Departamento de Projetos Especiais do Iphan e superintendente do Iphan em Santa Catarina, Liliane Nizzola, entre outras autoridades locais, estarão presentes na solenidade.
Obra de Intervenção na Casa Candemil
Formado a partir do porto original da cidade, o Centro Histórico de Laguna foi tombado pelo Iphan em 1985 e abriga cerca de 600 imóveis, resultando em um conjunto cercado pela beleza natural de suas praias. Um desses imóveis é o edifício conhecido como Casa Candemil, construído no fim do século XIX, tendo as quintas portuguesas como modelo, e que agora será entregue completamente restaurado.
Na década de 1990, a casa foi doada ao Iphan, que instalou ali o Arquivo Público Municipal. Desde então, abriga centenas de documentos que recontam a história da cidade e sua população, em um rico acervo que é testemunho da história local.
A intervenção na Casa Candemil reestabeleceu toda a estrutura do bem, garantindo as condições necessárias para a conservação dessa documentação e tornando o espaço apto a receber pesquisadores e demais interessados.
A obra consistiu na modificação da disposição dos ambientes internos, o que altera o acesso principal da edificação. As modificações internas foram propostas para garantir melhor atendimento aos usuários, assim como maior conforto aos funcionários e usuários do Arquivo Municipal de Laguna.
A obra contemplou restauração do telhado, esquadrias, forro, substituição de reboco, novos barrotes e assoalho, pintura interna e externa, climatização, novas instalações hidros sanitárias e elétricas, implantação de sistema de drenagem, deque de madeira na área externa.
Histórico da Casa Candemil
A “Casa Candemil” foi construída em meados do século XIX, por Manuel José Dias de Pinho (por isso o nome da Travessa onde está situada), filho de José Dias de Pinho, que nasceu em 1800 na Freguesia de Pinho, em Portugal.
Casou-se duas vezes: primeiro com Maria Pereira, não tendo filhos dessa união, e segundo, com Caetana Maria dos Anjos, nascida em Desterro, em 1804.
Saul Ulysséa, em seu livro “Laguna de 1880”, descreve a casa como “de boa aparência”, “onde residia a respeitável senhora Caetana Pinho”.
José e Caetana tiveram nove filhos: Maria Luísa, Manuel José, Luiz José, Bonifácio José, Alexandrina Luísa Dias de Pinho, que casou-se com Joachim José Pinto de Ulysséa (que construiu a “Casa da Carioca”), Fortulino José, José, Alfredo José e Antônio José.
Manuel José Dias de Pinho, nasceu aqui em 1º de outubro de 1832. Em 10 de fevereiro de 1861, casou-se com Maria Torres de Guimarães (filha de João José de Souza Guimarães e Anna Lourenço Torres) e tiveram três filhos: João, Salvato e Caetano Guimarães Pinho.
Manuel José Dias de Pinho doou a “casa” ao filho Oscar Guimarães Pinho (que foi prefeito da Laguna) sendo casado com Adelaide Fernandes Martins, e que tiveram três filhos: Manoel, Maria e Francisco Fernandes Pinho.
Provavelmente, ainda na década de 30, Sady Candemil da Silva veio de Imaruí, juntamente com seu irmão José. Posteriormente trouxe para morar com ele seus irmãos Carmen, Alda, Ruth, Prudência, Zulma, Dinorah, Maria da Glória, Haroldo e Euclides.
Sady já residia na “Casa Candemil”, quando em 1940, adquiriu definitivamente a propriedade.
José casou com Maria Spíllere e tiveram três filhos: Antônio José, Márcio e Mário Luís (Bau).
Alda casou com Ido Severino Duarte tendo dois filhos: Regina e Aldo, que morou muito tempo na “Casa Candemil”.
Ruth casou com Álvaro Nunes; Prudência com Sérgio Gonçalves; Zulma com Oscar Pereira; Dinorah com Nillor Hyárup Rollin, e Maria da Glória com Angelino Boff.
Todas as irmãs festejaram o casamento na “Casa Candemil”.
Sady permanecendo na casa, casou-se com Zulma Candemil, com quem teve dois filhos, Mauro e Mauri.
A sala da frente da residência era o Escritório da Empresa Lagunense de Navegação, sociedade formada por João Tomáz de Souza, Pinho & Cia., e Sady Candemil & Cia., proprietários dos navios Laguna e Adelaide.
Operava no ramo de cereais, farinha, madeira, camarão seco, entre outros produtos. Na casa também funcionou o escritório da empresa Boff & Candemil.
Quando Ruth fica viúva vai morar com Carmen, até mais ou menos 1985, deixando a casa em função de seu precário estado de conservação.
Neste mesmo ano, o Centro Histórico de Laguna foi tombado como patrimônio histórico nacional, impedindo a demolição das edificações mais significativas da área.
Estando parcialmente arruinada, no início da década de 1990, a casa foi escorada pelo Iphan e, em 1997, foi doada para o Iphan por dª Zulma Candemil e seus filhos Mauro (hoje prefeito de Laguna) e Mauri.
O IPHAN assumiu a completa restauração da edificação e entregou a casa à Prefeitura Municipal para implantar o Arquivo Público Municipal no ano 2000.
Após 18 anos, por falta de manutenção, a edificação foi novamente restaurada pelo IPHAN com recursos do Programa PAC-CH.
Em 2019, após a obra de restauração IPHAN e Prefeitura assinaram um Termo de Cessão de Uso, no qual a prefeitura será responsável pelo uso e manutenção da sede do arquivo público municipal.
PAC Cidades Históricas
O Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), iniciado em 2007, é uma inciativa do governo federal coordenada pelo Ministério do Planejamento que promoveu a retomada do planejamento e execução de grandes obras de infraestrutura social, urbana, logística e energética do Brasil. Em 2013, de forma até então inédita na história das políticas de preservação, o Ministério do Planejamento autorizou a criação de uma linha destinada exclusivamente aos sítios históricos urbanos protegidos pelo Iphan, dando origem ao PAC Cidades Históricas.
Para atender às cidades que possuem bens tombados pelo Iphan, há o PAC Cidades Históricas com R$ 1,6 bilhão destinado a 425 obras de restauração de edifícios e espaços públicos, em 44 cidades de 20 estados brasileiros. Coube ao Instituto a concepção dessa linha do PAC, que está sendo executada com a cooperação com diversos co-executores, em especial os municípios, universidades e outras instituições federais, com apoio técnico da Caixa Econômica Federal (CAIXA) e de governos estaduais.
Em Santa Catarina as cidades de Florianópolis e Laguna receberam investimentos do PA-CH
Em Laguna foram selecionadas 08 obras de restauração e 1 de requalificação urbana.
Outras obras do PAC em Laguna
– Requalificação Urbanística do Centro Histórico – 1ª Etapa – R. Raulino Horn e Largo do Rosário (concluída). Foram mais de R$ 10 milhões;
– Etapa final da restauração do Casarão do Clube União Operária e anexo (Obra está em andamento) R$ 644.031,96;
– Restauração da Casa Candemil, com mobiliário, equipamentos e recuperação do acervo documental: R$ 1.062.287,06.
– Restauração da Casa de Anita Garibaldi (obra está em andamento) R$ 554.346,19;
– Restauração da Antiga subestação de energia (obra a ser iniciada) R$ 627.160,26;
– Restauração do Sobrado da Sociedade Musical Carlos Gomes (obra em andamento) R$ 658.079,40;
-Restauração do Casarão do Clube Blondin (obras iniciarão no próximo dia 15) R$1.020.727,91.
Outras Obras
– Restauração do Casarão da Sociedade Recreativa Clube Congresso R$ 1.247.780,84. Em fase final de aprovação de projeto;
– Restauração da Antiga Estação Ferroviária e agenciamento do entorno, R$ 3.168.359,67. Em processo de licitação. (Com a colaboração do Escritório Técnico do IPHAN em Laguna)
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