Não é difícil supormos que os peixes possuam sérias limitações visuais quanto ao que se passa fora d’água. Afinal, alterações de direção da luz incidente na superfície da água devido à fenômenos físicos, tais como refração e reflexão, podem limitar a percepção que os nossos amigos aquáticos possuem sobre o meio circundante. Contudo, sob determinadas condições, os peixes possuem formas suficientes para enxergar o que se passa nas margens e, inclusive, escutar os pescadores papeando durante a pescaria. Sim, a percepção auditiva dos peixes é superior à dos cachorros. Para entendermos melhor algumas curiosidades, a coluna desta semana irá discorrer brevemente sobre a influência da física na pesca esportiva e como esta ciência poderá favorecer a sua próxima pescaria, meu caro leitor. Bem, os peixes ganham “vantagens visuais” em ocasiões onde o pescador encontra-se bem iluminado e destacado contra o céu. Essa afirmativa também é válida para os períodos noturnos. Assim, nas noites de lua cheia os peixes costumam perceber melhor o ambiente do que em noites de lua quarto minguante, por exemplo. Costumeiramente vemos os pescadores que estão nas margens arremessarem a isca no meio da lagoa e o pessoal que está no barco tentando lançar as iscas próximas às margens. Por quê? Ninguém quer perder o almoço por conferir “vantagem visual” provocada por vultos decorrentes da movimentação dos pescadores. Sim, condições de maré, tipo de fundo, etc também entram na jogada. Isso será papo para outra coluna. Certo, basta evitar dançar ao lado do molinete e a pesca está resolvida? Nem tanto, afinal o comportamento da luz incidente na superfície do meio aquático dependerá do vento. Nos dias em que o vento incide com maior intensidade sobre a superfície da água, os peixes acreditam que tudo está se movendo. Nesses dias, o pescador costuma dizer que “o peixe some”. De fato, em dias de vento, os peixes erroneamente acreditam que existem movimentos onde eles não ocorrem. O resultado é que eles tendem a se esconder. Nesses dias, o pescador normalmente volta para casa com o balaio vazio. Devido às variações angulares sofridas pela luz incidente e sua dependência em relação a intensidade do vento, não é difícil supor que as iscas em movimento na superfície tenderão a funcionar melhor que iscas mergulhadas. Correto? Sim, devido a refração da luz, os peixes não conseguem determinar se uma isca na superfície é verdadeira ou falsa. Assim, a única forma de tirar esta dúvida será dando uma bela mordida. Parabéns! Mais um peixe para o almoço. Se a pescaria for noturna com iscas de superfície ou meia-água? Dê preferência as iscas escuras. Por quê? Lembre-se que os peixes olham de baixo para cima. Assim, um objeto escuro terá melhor contraste com o clarão provocado pela lua ou pelas estrelas. É justamente buscando esta fácil identificação pelo contraste que as iscas de fundo claras geralmente possuem um melhor desempenho de captura. Na próxima pescaria você já sabe: Deixe o seu cunhado falastrão em casa, evite usar o abadá da última micareta e procure a “lua certa” para o seu peixe. Afinal, como diz um antigo provérbio português: “Lua deitada, marinheiro em pé”!
Por:
Prof. Dr. Eduardo Guilherme Gentil de Farias, Engenheiro de Pesca
Prof. Dr. Giovanni Lemos de Mello, Engenheiro de Aquicultura
Prof. Dr. Jorge Luiz Rodrigues Filho, Biólogo
Prof. Dr. Maurício Gustavo Coelho Emerenciano, Zootecnista
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