Norberto Bobbio, notável jurista e filósofo, embora melancólico por temperamento, acreditava nas virtualidades de duas grandes revoluções do Ocidente: a dos direitos humanos e a da democracia. Ambas serviriam de base para a sua proposta por um pacifismo jurídico e político, capaz de equacionar o problema da violência como lógica do antagonismo entre os Estados. Mas os eventos do terrorismo globalizado, abalaram as convicções do velho e respeitado mestre. Numa de suas últimas entrevistas declarou:
“Não saberia dizer como será o Terceiro Milênio. Minhas certezas caem e somente um enorme ponto de interrogação agita a minha cabeça: será o milênio da guerra de extermínio ou o da concórdia entre os seres humanos? Não tenho condições de responder a esta indagação”.
No final de sua vida, o grande historiador Arnold Toynbee (+1975), depois de escrever dez tomos sobre as grandes civilizações históricas, deixou consignada esta opinião sombria em seu ensaio autobiográfico Experiências de 1969:
“Vivi para ver o fim da história humana tornar-se uma possibilidade intra-histórica capaz de ser traduzida em fato não por um ato de Deus mas do homem”.
Severas são as advertências de Martin Rees, astrônomo real do Reino Unido. À base de muitos conhecimentos a que tem acesso afirma em seu livro “A Hora Final: alerta de um cientista” (2005):” A humanidade está em maior perigo do que já esteve em qualquer outra época de sua história…a nossa chance de sobreviver até o fim deste século não passa de 50%” (203.205)
Cabe citar ainda, por sua grande autoridade, a advertência de um dos maiores historiadores do século XX Eric Hobsbawn em se conhecido livro-síntese “Era dos Extremos” (1994). Concluindo suas reflexões pondera:
“O futuro não pode ser a continuação do passado…Nosso mundo corre o risco de explosão e implosão…Não sabemos para onde estamos indo. Contudo uma coisa é clara. Se a humanidade quer ter um futuro que vale a pena, não pode ser pelo prolongamento do passado ou do presente. Se tentarmos construir o terceiro milênio sobre esta base, vamos fracassar. E o preço do fracasso ou seja, a alternativa para a mudança da sociedade é a escuridão” (p.562).
A pandemia do Covid-19 nos deixa uma grave advertência: se continuarmos agredindo a natureza e a Terra algo ainda pior nos poderá acontecer: outros vírus mais letais que o Covid-19 poderão nos assaltar.
Esta situação suscita uma indagação humanística e filosófica: dá para se ter esperança ainda no ser humano no sentido de ver e sentir o outro como irmão e irmã? Pode ele melhorar sob o ponto de vista das relações sociais, da moralidade e da humanidade? Ou somos condenados a viver a nossa tragédia histórica até o fim, até a nossa autodestruição? O Papa Francisco em suas encíclicas ecológicas não exclui semelhante tragédia (Cf.Laudato Si n.161).
Seguramente não há nenhuma resposta cabal para interrogações desta radicalidade. Mas se no pós-pandemia não iniciarmos transformação substanciais na forma de produzir, distribuir, consumir e nos relacionar com a natureza então sim podemos ser surpreendidos com a destruição de grande parte da humanidade, senão de toda ela. A Mãe Terra, entre dores por perder filhos e filhas queridos mas rebeldes, continuará sua trajetória ao redor do Sol, mas sem nós.
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