Há 10 anos o tema “biocombustíveis” estava em alta. Universidades, Institutos de Pesquisa e cientistas das mais diversas áreas do conhecimento procuravam saber de que forma poderiam se encaixar nesta nova linha de pesquisa. O assunto prometia render muitos frutos, inovações e lógico, recursos. Uma onda de empresas privadas com foco no desenvolvimento de biotecnologias para o setor surgiu como muita força. Nesta época, o Jornal de Laguna possuía a Coluna “Campo e Mar” a qual também tratou do tema em um de seus artigos.
O fim da “era dos combustíveis fósseis” aliado às preocupações cada vez maiores acerca da queima deste tipo de combustível, eram justificativas mais do que suficientes para se pensar em fontes renováveis de energia.
Evidente, caro leitor, que o mundo não está “abandonando” as energias sustentáveis, muito pelo contrário. Um exemplo, inclusive, está nos bilionários parques eólicos que estão surgindo em nossa cidade. Porém, no decorrer da última década, algo ocorreu, em específico, sobre os biocombustíveis.
Produzir biocombustíveis sempre foi caro. Por outro lado, é muito mais fácil e barato perfurar um novo poço, um pouco mais profundo que seja, e encontrar petróleo. O Estado Islâmico, lamentavelmente, fatura US$ 2 milhões por dia desta forma.
De acordo com uma publicação recente do The Wall Street Journal, “A política idealista do governo americano está fracassando diante das forças de mercado. O projeto de biocombustíveis, lançado com altas expectativas há 10 anos, não foi capaz de atingir suas metas, forçando empresas, governos e ativistas a se ajustarem”.
Os biocombustíveis surgiram quando o barril de petróleo custava algo em torno de US$ 100,00 ou mais. Mais caro que a extração de petróleo, já não seria muito fácil naquela época comercializar os biocombustíveis, competir neste mercado, embora existisse todo um apelo ambiental ao redor desta nova biotecnologia. Com a queda acentuada no preço do petróleo, (hoje, o barril está custando por volta de US$ 30,00), o projeto dos biocombustíveis foi por “água abaixo”. É o que o jornal americano se refere, quando reporta que o “mercado venceu o idealismo”. Idealismo sobre um tipo de combustível renovável, sustentável e de futuro.
Com a exploração de novas fontes de petróleo e gás pelo mundo e a queda no preço do barril (não entrando no mérito se esta queda é ou não uma estratégia política norte-americana), o fato é que, no momento atual, é inviável economicamente produzir biocombustíveis. Reforçando, “no momento atual”.
As empresas que surgiram na década passada tiverem que mudar o seu foco. Um exemplo é a norte-americana “Solazyme Inc”. Fundada há 12 anos para fabricar combustível para carros e caminhões a partir de algas, a empresa recentemente lançou novos produtos, entre eles a AlgaVia®, uma “farinha de algas”. O produto promete substituir ingredientes menos saudáveis como manteiga, óleos e gema de ovo em receitas, eliminando a gordura trans, reduzindo a gordura saturada e as calorias, sem alterar a textura e o sabor dos produtos finais.
De forma alguma, aproveitaremos o assunto e a bola quicando para fazer uma piada de que os “biocombustíveis viraram pó”, longe disto. A produção de microalgas aumenta a cada ano em todo o mundo, inclusive no Brasil. É grande a sua aplicabilidade comercial na nutrição, saúde humana e animal, como também no tratamento de águas residuais, e obtenção de compostos de interesse para as indústrias alimentares, química, cosmética e farmacêutica.
Mês passado, no fechamento da Conferência Mundial do Clima (COP 21) realizada em Paris, o diretor-executivo do Greenpeace, Kumi Naidoo afirmou que a aprovação do texto final da COP 21 sobre a redução das emissões de gases do efeito estufa “representa o fim da era dos combustíveis fósseis”.
Atenção cada vez maior às mudanças climáticas versus o mercado mundial do petróleo e dos combustíveis: uma bela discussão global!!
Enquanto isso, aceita um pão de microalga?
Por:
Prof. Dr. Eduardo Guilherme Gentil de Farias, Engenheiro de Pesca
Prof. Dr. Giovanni Lemos de Mello, Engenheiro de Aquicultura
Prof. Dr. Jorge Luiz Rodrigues Filho, Biólogo
Prof. Dr. Maurício Gustavo Coelho Emerenciano, Zootecnista
aquicultura.pesca@gmail.com