Basta uma breve caminhada por entre as ruas do centro histórico para se ter a constatação de que Laguna é uma verdadeira aula de história ao vivo. Seja pelas mais de 600 casas tombadas pelo IPHAN, os vultos de Anita e Giuseppe Garibaldi, nossa suntuosa Igreja Matriz, a rica e importante participação na história de nosso país e agora recentemente, na última semana, um novo fato veio à tona e tomou grande proporção, não apenas por sua descoberta, mas também pelo estado conservado o qual se encontra. Durante escavações para obras de ampliação do saneamento básico na rua Raulino Horn, esquina com a Tenente Bessa, operários descobriram uma antiga galeria (foto ao alto) de distribuição de água que especialistas acreditam ter sido construída no século XIX, que serviria para canalizar a água excedente da Fonte da Carioca até o antigo porto da cidade. A água da fonte foi canalizada para prédios públicos e para um chafariz que na época ficava ao lado do Mercado Público (E). A obra realizada em uma das principais vias do centro, vem sendo acompanhada de perto por arqueólogos: “Paralisamos os trabalhos e no momento seguinte fizemos a evidenciação do material, abrimos mais umas três estruturas e conseguimos identificar que se tratava realmente de uma galeria que durante muito tempo recebia a água excedente da Carioca. Provavelmente foram escravos que abriram na mesma época da Fonte, datada de 1863”, explica a técnica em arqueologia Luana Alves. A conservação das paredes de pedras surpreendeu os especialistas. A água que vem da fonte ainda corre pela galeria, mas não é tão cristalina como antigamente. “Tem que ter todo um cuidado na hora de se fazer um projeto, uma obra de restauração ou de requalificação urbana, porque é uma cidade com mais de 300 anos. Sempre que se faz algum tipo de intervenção aparecem novos fatos históricos”, salienta Ana Paula Cittadin, chefe do escritório do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Após a descoberta, o projeto de saneamento está sendo alterado naquele trecho. “Não vamos parar a obra, vamos adequar o projeto, causando o menor impacto possível, conciliando a estrutura de galeria em pedra com a obra de saneamento e cabeamento subterrâneo e, posteriormente, com a revitalização da rua”, diz a secretária de Planejamento Grazielle Sitônio que ainda acrescenta: “A obra segue no prazo. Um levantamento arqueológico será concluído nas próximas semanas. Como a hipótese da continuidade da galeria até as docas do centro histórico, para o escoamento da água”.
Antigo Mercado Público
No início da década de 50, o prédio do primeiro Mercado Público, que acabou destruído pelo incêndio, começou a ser demolido no mandato do prefeito Walmor de Oliveira. Provavelmente, segundo pesquisadores, o chafariz também acabou sendo destruído. Registros antigos mostram a pequena fonte, que abastecia os moradores e comerciantes locais, também quem chegava e saia de Laguna por barcos e navios. O primeiro mercado público foi construído na década de 30. Na região, também foi instalada a estrada de ferro, principalmente, para abastecer de carvão os navios, no transporte para vários regiões do Brasil e mundo.
Fonte da Carioca
No início da sua colonização, Laguna tinha três fontes de água que abastecia a cidade. A fonte da Figueirinha, Campo de Fora e da Carioca, única preservada ainda hoje. A Fonte da Figueirinha estava localizada nas proximidades do Hospital Senhor Bom Jesus dos Passos. Uma segunda ficava no bairro Campo de Fora, imediações da antiga Estação Ferroviária. A fonte da Carioca fica localizada ao lado da Casa Pinto Ulysseá foi erguida no ano de 1863. Passou por inúmeras reformas ao longo dos séculos. Foi denominada Carioca, que em tupi-guarani significa casa branca ou oca. Suas nascentes estão sete metros abaixo da terra, nos pés do morro da Carioca, ou popular, morro da Nália. Por dia, 20 mil litros de água abastecem a comunidade e turistas, que levam para casa a água em garrafas e tonéis. Na temporada de verão ultrapassam 50 mil litros. Através de bombas hidraúlicas, a água é levada para as torneiras públicas.
Tratamento de esgoto
A obra de ampliação do esgoto na rua Raulino Horn deverá continuar em outras frentes. Todo o esgoto coletado na cidade, por meio das redes coletoras em 62.856 metros e mais de 6.637 mil ligações domiciliares, serão tratados. Os recursos injetados na obra são do governo federal e Casan, do PAC do Saneamento. Aproximadamente, 60% do esgoto em Laguna terá coleta com tratamento. Atualmente, grande parte está sendo depositado na lagoa Santo Antônio dos Anjos, sem a coleta adequada.
Ao alto, à direita, primeira foto colorida do antigo Mercado Público, bem antes do incêndio, em 1929. Ele foi inaugurado em fins do século XIX, 1898. Atrás da árvore, o chafariz. Também, ao alto, do lado esquerdo, o Mercado Público antigo, em ruínas após o incêndio em 1939. Restos do telhado e tijolos calcinados estão depositados no chão, próximos e outros entulhos, aparecem, também, o chafariz e a Casa Brasil, de Zeferino Duarte. (Com a colaboração e acervo fotográfico de João Carlos Silveira).
Deixe seu comentário
Você precisa ser cadastrado para comentar.