A coluna desta semana faz referencia a um termo que recentemente tem sido discutido e debatido na mídia e fóruns especializados: a “pegada hídrica”. Em épocas de crise populacional, geográfica e hídrica, o uso consciente e racional do recurso “água” vem se tornando cada vez mais importante. Até poucos meses atrás os principais reservatórios do país que abastecem as grandes metrópoles estavam em seus níveis mais críticos (ou chamado de “mortos”). Nestes níveis o consumo humano dessa água não é recomendado em algumas ocasiões devido a alta carga de matéria orgânica que se concentra no fundo desses ambientes.
Mas afinal, o que é a pegada hídrica? Segundo o especialista criador desse conceito, Arjen Hoekstra, professor de Gestão dos Recursos Hídricos da Universidade de Twente, na Holanda, a pegada hídrica é uma ferramenta de gestão de recursos hídricos que indica o consumo de água doce com base em seus usos direto e indireto. O método permite que as iniciativas públicas e privadas, assim como a população em geral, entendam o quanto de água é necessário para a fabricação de produtos ao longo de toda a cadeia produtiva. Desta forma, os segmentos da sociedade podem quantificar a sua contribuição para os conflitos de uso da água e degradação ambiental nas bacias hidrográficas em todo o mundo.
Segundo Hoekstra, apesar do setor público ter papel fundamental na elaboração de leis que tornem a gestão eficiente da água, uma obrigação, a população e as empresas também devem se envolver completamente. As companhias precisam entender como utilizar os recursos hídricos da melhor forma e devolvê-los limpos para a natureza. Já os consumidores devem se preocupar com a origem dos produtos que consomem e com os procedimentos adotados na produção.
Para avaliar a pegada hídrica de um produto, é preciso levar em consideração as etapas do processo de fabricação e os locais por onde ele passou – desde a matéria-prima até o produto final. O professor Hoekstra afirma que é possível também calcular a pegada hídrica de um indivíduo, de acordo com o padrão de consumo que ele segue e a oferta de produtos que ele tem. Uma pessoa que adota dieta vegetariana, por exemplo, tem uma pegada hídrica 30% menor do que uma não vegetariana. Isso porque as carnes em geral demandam mais água que os vegetais. Segundo estudos recentes, o brasileiro tem cerca de 5% da sua pegada em casa, com consumo de água na cozinha e no banheiro, e 95% estão relacionados com o que compra no supermercado, especialmente com produtos agrícolas. Outro dado importante é que 8% da pegada do brasileiro estão fora do País, um índice muito pequeno se comparado aos 85% da Holanda.
Médias globais de Pegada Hídrica em :
1 taça de vinho 120 litros de água
1 xícara de café 140 litros de água
1 Kg de açúcar refinado 1.500 litros de água
100 gramas de chocolate 2.400 litros de água
1 hambúrger 2.400 litros de água
1 camiseta de algodão 2.700 litros de água
1 Kg de carne bovina 15.500 litros de água
Mas como usufruir e aplicar na nossa região este conceito? Infelizmente ainda é uma realidade distante. É nosso dever instigar governantes e gestores que obriguem as empresas a mostrar a pegada hídrica de seus produtos. Já existem manuais e normas globais para tal. A exemplo dos produtos orgânicos que até pouco tempo atrás não contava com uma legislação específica, hoje já é regulamentado em nosso país. Assim, no futuro poderemos ter poder de escolha e privilegiar os produtos que valorizem o uso mais racional da água.
Por:
Prof. Dr. Eduardo Guilherme Gentil de Farias, Engenheiro de Pesca
Prof. Dr. Giovanni Lemos de Mello, Engenheiro de Aquicultura
Prof. Dr. Jorge Luiz Rodrigues Filho, Biólogo
Prof. Dr. Maurício Gustavo Coelho Emerenciano, Zootecnista
aquicultura.pesca@gmail.com