É num contexto assim que refletiremos sucintamente e invocaremos a ação sanadora e recriadora do Espírito Santo. Nossas fontes referenciais são os textos dos dois Testamentos judaico-cristãos e a experiência humana, cujo espírito é animado pelo Espírito Criador, chamado pela liturgia de “luz beatíssima”.
Pensar o Espírito Santo nos obriga a ir além das categorias clássicas com as quais se elaborou o discurso ocidental, tradicional e convencional da teologia. Deus, Cristo, a graça e a Igreja foram pensadas dentro de categorias metafísicas da filosofia grega: de substância, de essência e de natureza. Portanto, por algo estático e sempre já circunscrito de forma imutável. Este paradigma foi feito oficial pela teologia cristã.
Entretanto, pensar o Espírito implica assumir outro paradigma, o do movimento, da ação, do processo, da emergência, da história e do novo e do surpreendente. Este não pode ser apreendido com a terminologia substancialista mas com a do vir-a-ser.
Este paradigma nos aproxima da moderna cosmologia e da física quântica. Estas veem todas as coisas em gênese, emergindo a partir de um fundo de Energia Inominável, Misteriosa e Amorosa que está antes do antes, no tempo e no espaço zero. Ela sustenta o universo e todos os seres nele existentes e penetra de ponta a ponta o cosmos e nos penetra totalmente. Essa Energia de Fundo, chamada também de o Abismo Originador de todo o ser, é a melhor metáfora do Espírito Criador que é tudo isso e ainda mais.
Redizer o terceiro artigo do Credo cristão: “Creio no Espírito Santo” nestes novos moldes, significa uma diligência nova, cientes de que ficamos sempre aquém daquilo que deveríamos dizer sobre o Espírito Criador.
Finalmente, cabe reconhecer que tocamos no mistério. Este não se opõe ao conhecimento pois o mistério é o ilimitado de todo conhecimento. Este sempre conhece mais e mais, mas em todo o conhecimento permanece o mistério. Este é, por natureza limitado. Este mistério se revela mas também se vela. A missão dos que o acolhem e se entregam à sua reflexão sistemática como os teólogos e as teólogas, também os que se dedicam à filosofia (como F. Hegel, cuja categoria central é o Espírito Absoluto) é buscar incessantemente esta revelação.
É próprio do Espírito esconder-se dentro dos processos evolucionários e da história. É próprio do ser humano descobri-lo. Ele “sopra onde quer e não sabemos nem de onde vem nem para onde vai” (cf. Jo,38). Isso não nos exime da tarefa de des-ocultá-lo.
É o que esperamos ardentemente que este Espírito se manifeste e inspire os espíritos de nossos pesquisadores para que descubram uma vacina que salve nossas vidas. E quando através da pesquisa deles, Ele irrompe surpreendentemente, nos alegramos e celebramos, ebrios de gratidão por sua ação mediada pelo espírito humano.
Neste domingo, dia 31 de maio, celebramos a festa de Pentecostes, uma das maiores das Igrejas cristãs. É uma festa sem fim, pois o Espírito está permanente em ação, se prolonga ao longo e ao largo de toda a história e nos alcança até nos dias em que sofremos, nos angustiamos e tememos a letalidade do coronavírus. O Spiritus Creator nunca abandonou sua criação, mesmo nas 15 grandes dizimações pelas quais ela passou. E não nos vai abandonar agora. Veni Creator Spiritus et salva nos”.
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