Nestes tempos de desesperança política, por causa do muito ódio que grassa na sociedade e também por aquilo que não poucos denunciam como um golpe parlamentar-judiciário contra uma presidenta consagrada por uma eleição majoritária, precisamos reforçar os governantes que se propõem cuidar do povo e fazer com que o cuidado se constitua na marca da condução da vida social no município, no estado e na federação.
Na verdade, o Brasil precisa urgentemente de quem cuide dos pobres e marginalizados. Lula e Dilma intencionalmente se propuseram cuidar e não administrar o povo, mediante políticas sociais de resgate de sua vida e dignidade. Atualmente predomina uma política que cuida menos do povo e mais dos ajustes severos na economia, da estabilização monetária, da inflação, da dívida pública federal e estadual, da privatização de bens públicos e de nosso alinhamento no projeto-mundo. Tudo é feito sem escutar o povo e até contra direitos sociais, conquistados a duras penas. O mercado comanda a política e impõe fortes constrangimentos ao Estado em crise.
Com isso desaparece a dimensão ética do cuidado para com o povo e para com os mais vulneráveis. Cuidado mesmo, meticuloso e até materno há, sim, para com as elites dominantes, para com os bancos e para o sistema financeiro nacional e internacional que têm lucros exorbitantes.
Em lugar de cuidado, há na política administração das demandas populares, atendidas de forma paliativa, mais para abafar a inquietação e impedir a revolta justa do que para atacar as causas de seu sofrimento.
O cuidado para com o povo exige conhecer suas entranhas por experiência, sentir seus apelos, compadecer-se de sua miséria, encher-se de iracúndia sagrada e escutar, escutar e mais uma vez escutar. Deveria haver um Ministério da Escuta, como aliás existe em Cuba. Neste Ministério deveriam estar os discípulos de Paulo Freire e não os seguidores de Pavlov e de Skinner, os mestres de uma visão mecanicista da vida humana.
Escutar a saga do povo, seus padecimentos e suas esperanças, as soluções que encontrou, o Brasil que sonha. Ele quer bem pouca coisa: trabalhar e com o trabalho dignamente pago, comer, morar, educar os filhos, ter segurança, saúde, transporte, cultura e lazer para torcer pelos seus times de estimação e fazer suas festas e cantorias. O que ele mais quer é dignidade e ser reconhecido como gente e ser respeitado.
O povo merece esse cuidado, essa relação amorosa que espanca a insegurança, confere confiança e realiza o sentido mais alto da política.
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