Vivemos, em termos globais, a clara percepção de uma ruptura civilizatória: vale dizer, assim como o mundo se organiza não pode continuar, pois nos levaria a um caminho sem retorno. Vale repetir o que disse Z. Bauman em sua última entrevista antes de falecer: “Estamos (mais do que nunca antes na história) em uma situação de verdadeiro dilema: ou nos damos as mãos ou nos juntamos ao cortejo fúnebre do nosso próprio enterro em uma mesma e colossal vala comum”.
O Brasil é o nosso caso particular. Vivemos desde 2016 tempos de grande desamparo e desesperança coletiva, pela deposição até hoje questionada pelas mais lúcidas inteligências jurídicas e políticas de nosso país, dando lugar a um Estado de exceção, com políticas sociais altamente restritivas de direitos conquistados pelo mundo do trabalho e pelos mais vulneráveis, tudo de costas para o povo e à revelia de preceitos constitucionais. Ninguém pode nos dizer qual será o desfecho final da crise de nosso sistema politico-social.
Temos esperança de que o sofrimento coletivo não será em vão. Como diz um proverbio francês: “réculer pour mieux sauter”: “recuar para saltar melhor”. Seguramente sairemos desta crise melhores, com um projeto de nação mais fundacional e soberano. O recuo é para saltar melhor e mais alto. Trata-se de salvar e aprofundar a democracia de cunho eco-social e as liberdades democráticas.
Essa é uma tarefa não apenas desse momento crucial mas tarefa diuturna, consoante as sábias palavras de Goethe em seu Fausto: “Só ganha a sua liberdade e a existência aquele que diariamente as reconquistas”.
Estes são meus votos a todos e a todas para 2018.