A última vez em que os cultivos de salmão do Chile enfrentaram uma grande adversidade, foi em 2007 com a ISA, sigla da enfermidade denominada “Anemia Infecciosa do Salmão”. A doença causada por um vírus, prejudicou fortemente a indústria daquele País entre 2007 e 2010, causando uma queda de 20% nas exportações do salmão do Atlântico, perdas equivalentes a US$ 600 milhões e uma redução de 16 mil postos de trabalho relacionados diretamente com o setor. Diferentemente do que ocorreu em Laguna, onde um vírus devastou a carcinicultura local, os chilenos deram a “volta por cima” e retornaram à posição de segundo maior produtor e exportador mundial de salmão, ao lado da Noruega.
Considerando todos os salmonídeos produzidos (incluindo as trutas), o Chile produz anualmente mais de 800 mil toneladas de peixes, a maior parte em gaiolas (tanques-rede) no mar (em zonas abrigadas). Para termos uma ideia da dimensão deste montante, o volume equivale a todos os pescados extraídos pela pesca industrial e artesanal brasileira. Quer dizer que, o que o Chile produz de salmão equivale a tudo que o Brasil pesca em suas águas? Os números indicam que sim! Esta é uma das razões do salmão estar tão presente nos mercados e restaurantes brasileiros. Provavelmente, o salmão chileno está entre os pescados mais consumidos em alguns restaurantes de Laguna!! Este “milagre” vem de uma relação bem estabelecida entre oferta e demanda, e de uma cadeia produtiva aquícola altamente preparada para exportar a vários países peixes frescos, recém retirados (despescados) da água. É isto mesmo, o salmão que você vai comer amanhã em Laguna, provavelmente estava em águas chilenas nesta terça ou quarta-feira. Também por isto, diga-se de passagem, é tão bom. Esta ampla oferta também é responsável pela queda nos preços do produto nos últimos anos. Comer salmão não era tão fácil e nem tão barato há 10 ou 20 anos atrás no Brasil.
No entanto, a partir do dia 25 de fevereiro deste ano, um sinal de alerta ascendeu no pacífico chileno. A empresa “Camanchaca” notificou à Superintendência de Valores e Seguros que um florescimento de microalgas causou a mortalidade de 1,5 milhões de peixes em seus centros de produção, localizados na região dos Lagos, sul do Chile. Nos dias que se seguiram, outras empresas começaram a sofrer mortalidades severas nos salmões cultivados, lembrando em muito o “efeito dominó” da mancha branca nas fazendas de cultivo de camarão de Laguna, Pescaria Brava e Imaruí em 2004/2005. No dia 1º de março, há 10 dias atrás, a “Marine Harvest”, uma das maiores empresas de produção de salmão do mundo, também reconheceu estar sofrendo com o fenômeno das florações algais e a consequente mortalidade dos peixes cultivados.
Segundo as empresas chilenas, florescimentos de algas ocorrem todos os anos, porém, em intensidades mais baixas do que está acontecendo agora. O Serviço Nacional da Pesca do Chile acredita que o fenômeno tem relação direta com o El Niño, tendo em vista que ele (o El Niño) atual é considerado o mais forte dos últimos 20 anos. Lembram-se de uma coluna anterior discutindo o efeito do “El Niño” na pesca artesanal do camarão em Laguna? Pois é, de fato, seus efeitos são globais.
A última informação vinda do Chile, nesta semana, trazia relatos sobre mortalidades superiores a 20 milhões de peixes, com uma projeção de quebra de cerca de 90 mil toneladas (isto mesmo, 90 milhões de quilos de salmões mortos precocemente…). Por sorte, já que não se trata de uma doença, e sim de um florescimento de microalgas, as quais possivelmente reduzem o oxigênio dissolvido à noite para níveis críticos, próximos à zero, esta realidade pode mudar em poucos dias ou semanas. Basta o clima e as condições hidrodinâmicas e oceanográficas ajudarem um pouco.
De acordo com um produtor local, na sua língua: “La madre naturaleza parece que intervino y sí o sí la reducción se dará, que agrega con toda esta pérdida de biomasa, se prodría producir un ajuste positivo em los precios”. Ou seja, como os preços do salmão estão baixos no mercado internacional, quem sabe uma queda na produção auxilie no reajuste do valor do quilo. Enfim, todo problema tem sempre seu lado positivo. Nós consumidores, sempre queremos preços mais baixos, mas onde fica o produtor nesta matemática?
Esperamos e torcemos para que estas florações de microalgas se reduzam, as águas dos cultivos renovem-se com maior intensidade e que a salmonicultura chilena recupere-se o mais rápido possível.
Os amantes do sushi agradecem!
Por:
Prof. Dr. Eduardo Guilherme Gentil de Farias, Engenheiro de Pesca
Prof. Dr. Giovanni Lemos de Mello, Engenheiro de Aquicultura
Prof. Dr. Jorge Luiz Rodrigues Filho, Biólogo
Prof. Dr. Maurício Gustavo Coelho Emerenciano, Zootecnista
aquicultura.pesca@gmail.com