Aquicultura e Pesca

Tilápia: peixe barato e filé caro. Por quê?

Eis uma grande dúvida dos consumidores em geral. Por esta razão, dedicamos à coluna desta semana visando discutir um pouco sobre o tema. A tilápia-do-Nilo, de nome científico Oreochromis niloticus, é originária do continente africano e da Palestina. A espécie vem sendo cultivada em dezenas de países como a China, Taiwan, Filipinas, Tailândia, México, Brasil, Cuba, Indonésia, Egito e Colômbia e que são os principais produtores. No Brasil, este simpático peixe de água doce a cada dia conquista mais adeptos ao seu consumo. Lembrando que as tilápias representam o principal pescado cultivado no País (260 mil toneladas em 2014). Para ter uma ideia do que representa este volume, o Brasil cultiva 90 mil toneladas de camarões marinhos. Ou seja, em águas brasileiras, cria-se três vezes mais tilápias do que o camarão Litopenaeus vannamei. A tilápia reúne uma série de características zootécnicas favoráveis ao seu cultivo, como crescimento rápido, rusticidade, resistência a doenças, grande tolerância a variações de parâmetros de qualidade de água, como oxigênio, temperatura e pH, entre outras. O seu principal “defeito” (termo talvez forte para uma espécie de tanto potencial) é o baixo rendimento de filés, em média, de 30 a 35%, dependendo do tipo de corte. Neste ponto, podemos fazer um questionamento: “Se a tilápia tem baixo rendimento de filés, porque não é comercializada de outra forma, por exemplo, apenas eviscerada?”. A resposta não é tão simples e direta. O mercado brasileiro tem uma alta demanda de filés de peixes de carne branca. Adicionalmente, esta é a principal fatia de mercado explorada pela cadeia produtiva da tilapicultura, em especial nas regiões Sul e Sudeste do Brasil. Voltamos à questão do rendimento de filés. Um peixe que hoje “na porteira” é vendido a R$ 3,70, o que é pouco para o produtor, significa que o frigorífico investe R$ 11,10 para adquirir 3 (três) quilos de peixes, os quais originarão um1 (quilo) de filés (relembrando, rendimento médio de 33%, ou seja, 3:1). Este é o custo do produto para as empresasbeneficiadoras. Corrigindo, isto é uma parte do custo! O frigorífico precisa buscar os peixes de caminhão refrigerado até a fazenda (geralmente rodando em estradas ruins), comprar algumas toneladas de gelo para o abate no campo e posterior conservação no caminhão/transporte, além de considerar todos os custos ligados ao processamento, desde a recepção da matéria prima na indústria (peixe “sujo”) até o congelamento e acondicionamento, se for o caso, em embalagens específicas. Coloque um valor, por menor que seja, de R$ 6,00 de custo total por quilo de filé processado. Agora nosso “novo” valor do quilo do filé já está em R$ 17,10. E você pensou que poderia comprar um quilo de filés de tilápia por 10 ou 15 reais? Calma que os itens de despesa ainda não terminaram… Depois de calculado o custo da matéria prima e do processamento, a empresa de pescados tem agora que comercializar estes filés, enviando-os até o seu atacadista, ou algum supermercado, etc. Some os custos do transporte (de novo tem que transportar em caminhão especial!!), IMPOSTOS, e algum lucro que no fim das contas a empresa precisa ter para todo o trabalho e não virar filantropia ou prejuízo econômico. Nesta altura do campeonato, o preço do quilo dos filés já passou hà tempo dos R$ 20,00 ou R$ 25,00. Estes são os valores, por exemplo, que o supermercado A ou B compra os filés da indústria. Já está na hora do almoço? Então vamos até o supermercado comprar filés de tilápia! Chegando lá, encontramos os filés em embalagens de, por exemplo, 400 g, ao preço de R$ 14,00… Fazendo rapidamente as contas, percebemos que o valor do quilo do produto está em R$ 35,00!Um pouco caro? Apesar dos produtores e da indústria trabalharem com margens de lucro “bem apertadas”, os supermercados não entram neste negócio se não for para obterem bons lucros. Pelo menos agora, você já tem uma ideia dos custos em cada etapa da principal cadeia produtiva de pescados do Brasil. Aprendemos também que não existem milagres nesta indústria. Quer dizer que o filé de tilápia no Brasil é, em alguns casos, mais caro do que o filé importado do Salmão-do-Atlântico? Sim! Em outra coluna conversaremos um pouco mais sobre a salmonicultura chilena e entender como a tilápia pode até ser mais cara que o salmão. Um bom almoço!

Por:
Prof. Dr. Eduardo Guilherme Gentil de Farias, Engenheiro de Pesca
Prof. Dr. Giovanni Lemos de Mello, Engenheiro de Aquicultura
Prof. Dr. Jorge Luiz Rodrigues Filho, Biólogo
Prof. Dr. Maurício Gustavo Coelho Emerenciano, Zootecnista
aquicultura.pesca@gmail.com

Deixe seu comentário