A coluna desta semana destaca os motivos que fizeram com que as tilápias caíssem no gosto dos piscicultores brasileiros e as novas tendências para o setor no país. Esta reflexão é baseada em recente artigo assinada pelo editor Marcos de Oliveira e publicado pela revista da FAPESP (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) do mês de novembro deste ano.
As vantagens zootécnicas desta espécie já são amplamente conhecidas como rusticidade e resistência a doenças, ótimas taxas de crescimento, hábito alimentar onívoro (que significa dietas mais baratas por serem flexíveis quanto a escolha de ingredientes), fácil reprodução, entre outros tantos motivos. Esta espécie é originária do continente africano e já era consumida pelos antigos egípcios há mais de três mil anos.No Brasil, a tilápia é o peixe mais produzido com 219 mil toneladas despescadas em 2015 (segundo IBGE, 2016). Esse número aumentou 9,7% em relação a 2014 e quase 10 vezes em relação a 1998, quando eram comercializadas “tímidas” 30 mil toneladas. Assim, a indústria teve que ganhar escala, evoluir, amadurecer…
Hoje os desafios são inúmeros, entre eles, oferecer aos consumidores peixes com aspectos visuais diferenciados. Neste contexto, destaque para tilápias vermelhas que são alvo de pesquisas do Laboratório de Aquicultura (LAQ) e do Laboratório de Nutrição de Organismos Aquáticos (LANOA) da UDESC-Laguna. Esta variedade é fruto de cruzamentos de outras espécies e/ou de híbridos de tilápias, que no Brasil ganhou vários nomes ou apelidos, entre eles a “tilápia Saint Peter”. Esta variedade é oriunda do cruzamentos da Red-Stirling (Oreochromisniloticus selecionada no Reino Unido) com a variedade Chitralada (animal de coloração mais escura). O objetivo foi melhorar geneticamente o desempenho em condições de cultivo da variedade vermelha vinda da Universidade de Stirling. O resultado, um peixe que caiu no gosto dos brasileiros, principalmente no estado de São Paulo. Segundo o zootecnista e professor Alexandre Wagner Silva Hilsdorf, do Laboratório de Genética de OrganismosAquáticos e Aquicultura (Lagoaa), da Universidadede Mogi das Cruzes (UMC), mesmo com o gosto e a cor do filé idênticos ao das tilápias pretas, as vermelhas chamam mais a atenção do consumidor nas gôndolas. Segundo o artigo publicado, “a vermelha é mais atraente, vende mais. Lembra peixes marinhos e por isso ganha melhor aceitação”, cita Hilsdorf. Ainda que com crescimento um pouco inferior que a preta, a tilápia vermelha inteira é vendida em pisciculturas paulistas por R$ 9,80 o quilo (kg), enquanto a preta por R$8,50, segundo o artigo.
Entre outras tendências estão o desenvolvimento de vacinas, principalmente contra doenças de origem bacteriana como é o caso da Streptococcusagalactiae. Esta bactéria pode provocar grandes mortalidades que podem chegar a mais de 90% na fase final de engorda (animais com cerca de 800 gramas). Outras linhas de estudo incluem a seleção de matrizes de tilápias com o objetivo de aumentar o rendimento das proles em relação à produção de carne; e o uso de probióticos (bactérias ouleveduras) adicionadas à ração visando combater bactérias que possam prejudicar o crescimento e a saúde das tilápias. O futuro parece promissor e a tilapicultura está se preparando para novos “voos” em terras brasileiras.
Prof. Dr. Maurício G. C. Emerenciano, Zootecnista