O curso de Engenharia de Pesca da Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc), em Laguna iniciou ontem (5), o primeiro experimento para avaliar a qualidade da água da Lagoa de Santo Antônio e as possíveis causas de contaminação. Os trabalhos serão realizados pela equipe do Laboratório de Biologia Molecular e Genética, com coordenação dos professores Karim Hahn Lüchmann e Carlos André da Veiga Rosa. Para esse projeto, os participantes prepararam quatro balsas para expor ostras da espécie Crassostrea brasiliana na desembocadura do rio Tubarão; na base da Polícia Ambiental (Centro Histórico de Laguna); e nos dois lados da obra da Ponte Anita Garibaldi, nos bairros Cabeçuda e Bananal, com aproximadamente dois quilômetros de distância. “O Bananal foi avaliado pela Universidade Federal de Santa Catarina há 12 anos e os dados serão comparados com os que obtivermos agora”, destaca Karim. Os demais pontos, porém, não têm ainda uma base para comparação, pois as análises de contaminantes são caras e difíceis de serem feitas, impedindo um monitoramento frequente na região. “Os moluscos bivalves, como ostras e mexilhões, são ideais para esse tipo de experimento, pois são excelentes filtradores e bioacumuladores, podendo indicar a presença de substâncias poluentes na água”, explica a docente, que se tornou doutora em Bioquímica em 2012. A tese dela, sobre as respostas bioquímicas e moleculares da Crassostrea brasiliana à presença de contaminantes na água, foi desenvolvida na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), que está oferecendo apoio técnico para a pesquisa da Udesc Laguna. Além de Karim e do professor Veiga Rosa, o experimento na lagoa envolve mais 13 integrantes da instituição estadual: os docentes Aline Fernandes de Oliveira, Cristian Berto da Silveira e Fábio Gonçalves Daura Jorge; os bolsistas Clarissa Pellegrini Ferreira e Thiago Piazza; e alunos voluntários.
Tempos diferentes de exposição
As ostras, que serão fornecidas pelo Laboratório de Moluscos Marinhos da UFSC, estão sendo cultivadas na fazenda marinha do Bairro Sambaqui, em Florianópolis, sob coordenação do professor Cláudio Rodrigues de Melo, e vieram para Laguna ontem. Montada com canos de cloreto de polivinil (PVC), cada balsa terá de 40 a 50 ostras, que serão divididas em dois tempos de exposição. Algumas ficarão 24 horas sob a água, enquanto as demais permanecerão por aproximadamente 15 dias. “Em 24 horas, as ostras podem se adaptar à presença dos contaminantes e resistir a danos nas células. Em 15 dias, a resposta pode ser diferente e isso é uma das questões que vamos analisar”, diz o bolsista Thiago Piazza. Os quatro pontos terão a mesma profundidade: os moluscos ficarão 15 centímetros abaixo da superfície, presos em travesseiros de polietileno, enquanto poitas de cimento serão colocadas no fundo da Lagoa de Santo Antônio, a um metro e meio, para servirem de âncora. Também haverá placas ao lado das balsas, com informações sobre o projeto e a importância dele para o desenvolvimento da região. A estrutura do experimento foi montada com recursos obtidos em edital do ano passado da Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Estado de Santa Catarina (Fapesc). O valor total de R$ 78,5 mil possibilitou não somente a compra dos componentes das balsas, mas também de reagentes e vários equipamentos para as análises. Essa lista tem, por exemplo, galão de nitrogênio, homogeneizador e sistema de purificação de água.
Três tipos de análise
Depois da exposição das ostras, haverá análises químicas delas na Udesc Laguna, com os professores Cristian Berto da Silveira e Aline Fernandes de Oliveira. Já as análises bioquímicas e moleculares serão realizadas pela instituição estadual e pelo Laboratório de Biomarcadores de Contaminação Aquática e Imunoquímica da UFSC, coordenado pelos docentes Maria Risoleta Freire Marques e Afonso Celso Dias Bainy, que orientou a professora Karim no doutorado. Além disso, serão analisadas ostras que nem ficarão expostas. “O tempo zero é por medida de segurança, para ter certeza de que elas não estavam sob impacto de contaminantes em Sambaqui”, conta Karim. Segundo ela, os pesquisadores esperam encontrar níveis de metais pesados, como o mercúrio, nas ostras que serão colocadas na Lagoa de Santo Antônio e talvez de óleos usados em embarcações. Outras hipóteses de contaminação serão verificadas, entre as quais o esgoto sanitário e resíduos de agrotóxicos das culturas de arroz e fumo de municípios do Complexo Lagunar do Sul de SC, que é formado também pelas lagoas de Imaruí e Mirim. “Considerando o histórico da região, o Rio Tubarão deve ser a área mais impactada”, declara a docente. “Claro que não é um cenário desesperador, mas é importante pesquisar para ver se há contaminantes que podem, a longo prazo, causar efeitos tóxicos nos organismos aquáticos e consequentemente no ser humano.” Os pesquisadores pretendem fazer outra exposição de ostras no início do próximo inverno, nos mesmos pontos, para verificar a reação das substâncias poluentes à mudança de fatores como temperatura e salinidade. “No inverno, provavelmente haverá um impacto menor dos agrotóxicos usados na região”, acrescenta Karim.
Resultados
Os dados dos experimentos serão apresentados por dois trabalhos científicos no 13º Congresso Brasileiro de Ecotoxicologia, em setembro de 2014, em Guarapari (ES), e usados em, pelo menos, um trabalho de conclusão de curso. Os resultados das exposições das ostras também serão comparados com outras pesquisas que estão sendo desenvolvidas no Complexo Lagunar pela Udesc Laguna desde a criação da Engenharia de Pesca, em 2010. “Faltam dados sistemáticos de todo o ecossistema local. Essa pesquisa e as demais que a universidade vem fazendo pretendem preencher essas lacunas e possibilitar uma visão do quadro geral”, ressalta a professora Karim. As pesquisas colaborarão com a preservação do complexo, que apresenta grande diversidade biológica, da qual dependem várias atividades econômicas, sendo a pesca artesanal de comunidades tradicionais uma das mais importantes. “Relatos de pescadores da região apontam que populações de espécies de peixes e crustáceos vêm diminuindo ao longo dos últimos anos”, comenta a professora da Udesc Laguna. As pesquisas colaborarão com a preservação do complexo, que apresenta grande diversidade biológica, da qual dependem várias atividades econômicas, sendo a pesca artesanal de comunidades tradicionais uma das mais importantes. “Relatos de pescadores da região apontam que populações de espécies de peixes e crustáceos vêm diminuindo ao longo dos últimos anos”, comenta a professora da Udesc Laguna.