O mercado brasileiro de camarões marinhos atravessa uma de suas piores crises: a falta de produto no mercado. Na coluna desta semana vamos tentar explicar o porquê desta crise e o tamanho do problema.
Há muito tempo a pesca artesanal e industrial de camarões marinhos no Brasil não supre a demanda do mercado nacional. Cerca de 70% do camarão consumido no País é proveniente de fazendas, notadamente de empreendimentos localizados na região Nordeste. É isto mesmo caro leitor, o brasileiro consome muito mais camarão de cultivo do que capturado no ambiente natural.
Quem sabe aqui na região de Laguna, ainda podemos optar em comer apenas o camarão “da Lagoa”, ou somente o de cultivo, você escolhe! Não vamos discutir qual o melhor, afinal, os dois são excelentes. Mas imagine em São Paulo, Belo Horizonte ou Brasília? O camarão consumido pelo brasileiro nas grandes cidades é cultivado, assim como o salmão ou as ostras e mexilhões.
Em 2015, o Brasil produziu 69.859 toneladas de camarões marinhos (IBGE, 2016). A região Nordeste responde por 99,3% da produção, sendo que o Estado do Ceará detém 58,3% da produção nacional, seguido pelo Rio Grande do Norte, com 25,5%. Estes dois estados totalizam 83,8% da produção brasileira de Litopenaeus vannamei.
O problema é que o vírus da Síndrome da Mancha Branca, ele mesmo, resolveu manifestar-se nos cultivos cearenses nos últimos meses. Doze anos após surgir em Imaruí e Laguna, lamentavelmente chegou a vez do Ceará. Boa parte das fazendas perderam toda a produção e, atualmente, encontram-se aguardando por dias melhores.
Se o Estado que representa 60% da produção nacional de camarões marinhos atravessa sérias dificuldades no cultivo, estamos falamos de uma crise nacional neste segmento. Na prática o que isto significa? Muito menos oferta e preço nas alturas. Na cotação de hoje (28/10/2016) um camarão de 12 g (80-100 peças/kg) está sendo comercializado “na porteira” das fazendas do Nordeste a R$ 28,20/quilo. Camarões de 5 g estão sendo vendidos a R$ 15,00/kg.
Mesmo que o comprador repasse este preço aos atravessadores e/ou ao consumidor final, a questão nem é esta, pois o quilo da picanha já passou dos 40 reais ha tempo e o camarão é bem mais saudável. A questão é que o produto, de fato, pode acabar ou ficar bem escasso para a temporada de verão que se aproxima.
E não podemos importar camarão? Não! Existem normativas sanitárias no Brasil que impedem a entrada de camarões de qualquer outro país, visando a proteção da sanidade dos nossos crustáceos frente a enfermidades que acometem os cultivos em outros locais.
Esperamos que o aumento da temperatura em todo o país favoreça a imunidade dos camarões frente ao vírus da mancha branca, e que a doença se atenue na região Nordeste, principalmente no Ceará (fez frio lá também e este pode ter sido o principal gatilho para o surgimento da doença). Há grandes chances de isto ocorrer e, caso aconteça, em meados de janeiro ou fevereiro de 2017 já teremos camarão novamente abastecendo o mercado nacional de forma regular. O fato é que não podemos mais depender do clima para produzir adequadamente ou com segurança.
Esta crise evidencia de forma nítida a importância do apoio governamental para o desenvolvimento de novas tecnologias de produção de camarões marinhos. A Ásia e América Central e do Norte já entenderam o recado e hoje produzem camarões de forma biossegura, em convívio com o vírus da mancha branca ou isolando o vírus do sistema de produção.
A única certeza é a que população mundial a cada dia quer comer mais pescados. Existem aí grandes desafios e ao mesmo tempo grandes oportunidades para novos negócios.
Por:
Prof. Dr. Eduardo Guilherme Gentil de Farias, Engenheiro de Pesca
Prof. Dr. Giovanni Lemos de Mello, Engenheiro de Aquicultura
Prof. Dr. Jorge Luiz Rodrigues Filho, Biólogo
Prof. Dr. Maurício Gustavo Coelho Emerenciano, Zootecnista
aquicultura.pesca@gmail.com