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A “cura gay”, a imprensa sensacionalista e a ignorância

A internet está em polvorosa por conta da “liberação da cura gay” (como vi algumas pessoas comentando). Outras comentaram também que, “se o Brasil não tem hospital pra tratar nem gripe, como vai tratar gays?”.

É cada coisa que vemos por aí… mas a culpa é de uma imprensa sensacionalista somada a uma população ignorante, que não se esforça em ler e entender o que está acontecendo.

Portanto, antes de comentar qualquer coisa por aí, sugiro que leia esta breve análise que farei.

 

O juiz: Ele apenas analisa os pedidos que chegam até ele. Não é uma lei que foi criada e deve ser seguida em todos país. O que ele fez foi permitir que uma psicóloga trate pacientes que não se sentem bem com sua sexualidade. Como o conselho de psicologia não permitia essa prática, a psicóloga entrou com um pedido pra que isso fosse liberado. O juiz analisou o pedido e entendeu que não era ilegal esse tipo de prática e liberou a psicóloga para faze-la. Ponto!

A psicóloga: O trabalho de um psicólogo é ajudar a tratar os problemas que o indivíduo tem com ele mesmo. Um paciente se sentiu desconfortável com sua sexualidade e buscou ajuda. Da mesma forma que muitas vezes ficamos confusos com relação ao trabalho e relacionamentos, também é comum esse tipo de angústia com relação à sexualidade. Ainda mais se a pessoa vive em um ambiente onde a família e sociedade julgam a homossexualidade como algo errado. A psicóloga, então, não estava em busca de uma cura e, sim, em busca de um alento e uma direção para um paciente que se sentia angustiado.

O paciente e a “cura”: Se uma pessoa não se sente bem com sua condição, ela tem todo o direito de procurar ajuda. Seja pra entender o que ela sente, pra se aceitar, pra diminuir os traumas que a pressão da sociedade pode causar.

 

Esse são os 3 pontos principais sobre essa notícia. Não haverá “cura gay” liberada para todos nos hospitais. Não haverão psicólogos divulgando isso como um serviço e, se houver, já pode mandar prender o psicólogo, pois além de péssimo profissional, se mostra um mal caráter. Homossexualidade não se cura. O que pode ser tratado são os traumas, as dificuldades de aceitação, tudo que pode mexer com o psicológico de uma pessoa em decorrência da sua opção sexual. Assim como pode ser tratado o psicológico de uma pessoa em decorrência de suas escolhas profissionais.

O que o juiz explica no despacho é justamente isso. Ele em nenhum momento fala em “cura gay” nem nada do gênero. Ele apenas permite a pesquisa e o trabalho na área de (re)orientação sexual. Isso não é retrocesso, como muitos dizem. Isso é o oposto. É um passo em direção a um maior entendimento e aceitação das condições sexuais de cada um. A proibição do conselho de psicologia é da década de 90. Está ultrapassado. Proibir que psicólogos ajudem àqueles que buscam isso, é impedir que as pessoas que se sentem angustiadas, ou que buscam algum tipo de conforto e orientação, sejam excluídas ainda mais.

Mais uma vez, antes de defecar pela boca, lembre-se que não existe, nem nunca existirá cura gay, mesmo que psicólogos possam abordar o assunto. O que vai existir, e isso é muito bom, é a oportunidade de pessoas falarem sobre sua orientação sexual e buscarem dentro de si mesmas a diminuição dessas angústias, pois é isso que a psicologia faz. O psicólogo é um guia que te ajuda a buscar dentro de si as respostas que você não consegue enxergar, não importa o tema ou o tipo de problema que você esteja enfrentando.

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Antes que você diga: Ah, mas isso vai dar margem pra que os pais levem seus filhos aos psicólogos e os obriguem a serem héteros. Bom, muitos pais já fazem pior, dando surras e tentando “corrigir” a sexualidade na marra.

O psicólogo também tem papel importante deve seguir um código de ética pra não fazer nada forçado e que possa traumatizar ainda mais. E, se pais tentarem usar o tratamento psicológico como forma de correção da sexualidade, cabe ao psicólogo ter o bom senso de não levar isso adiante e, melhor ainda, pode, quem sabe, tratar esse conflito entre pais e filhos para que todos eles possam aceitar e entender a sexualidade. Se tivermos profissionais capacitados e sensíveis, podemos, inclusive, tornar o conflito entre pais, filhos e sociedade menos nocivos.

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Para evitar ainda mais qualquer opinião errada, sugiro que leia a Ata da audiência, que é bem sucinta e direta. Não há nada sobre tratar uma pessoa que quer voltar a ser hétero. A tal da “cura gay” ainda é veementemente criticada e combatida na decisão judicial. Se você tiver, pelo menos, dois neurônios funcionando, vai conseguir entender que a mídia fez um grande sensacionalismo em algo que não traz problemas nenhum para homossexuais e ainda permite que questões que vinham sendo marginalizadas sejam finalmente discutidas.

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