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Laguna Vale a Pena?

Hoje comprometi-me com o Jornal de Laguna, para elaborar uma matéria alusiva a estes mais trezentos anos da história portuguesa de nossa amada cidade.

Desta vez comecei por um caminho diferente e postei no Facebook esta pergunta contida no título. “Laguna vale a pena?

As repostas deram-me uma trabalheira, pois agora, foram tantas e tão ponderadas, que estou a obrigar-me lê-las, uma a uma e compor este artigo escrito a oitenta mãos.

Algumas respostas partiram da alma dos amantes da cidade, emocionais, cheias de orgulho e vaidade, mas também com seus lamentos, quase sempre sobre as administrações públicas.

Alguém começou com Fernando Pessoa, o mestre dos poetas da língua portuguesa, com o famoso “Tudo vale a pena se a alma não é pequena”.

Então, também começo por aí.

Nos séculos XV e XVI, quando a economia de muitos países da Europa dependia em parte do comércio com o oriente, na importação das sedas e das especiarias, quando o cravo, a canela, a pimenta e o cominho, valiam mais que o ouro, a cidade de Constantinopla ficava a meio caminho da rota de comércio. Lá é que acontecia tudo, onde tudo comercialmente se realizava.

Porém, em 1453, os turcos otomanos tomaram a cidade e puseram fim ao Império Romano do Oriente (Bizantino), bloqueando totalmente as rotas dos negócios dos países da Europa com os países orientais.

Daí, o que sobejamente conhecemos, a necessidade de encontrar um “Caminho Marítimo para as Índias”, contornando de norte para o sul, o continente Africano pela costa atlântica.

Mas, como diria Carlos Drummond de Andrade, “no meio do caminho tinha uma pedra”.

Esta pedra era o Cabo Bojador, ponta mais ocidental da África, completamente maluco em matéria de ventanias distorcidas, vigoroso, terrível, coisa para ser enfrentada por gigantes.

Os portugueses, premidos pela necessidade, passaram em investir em tecnologia naval, enfrentando o Bojador e para isso, perdendo incontáveis navios bem aparelhados e sepultando no fundo do oceano milhares de jovens tripulantes.

Os experientes marujos chegavam a afirmar nas noites fumacentas das tabernas, que a partir do Bojador, o mar era inavegável.

Maridos, noivos, pais, filhos, iam e não voltavam mais, numa repetição da dor para a nação e as famílias.

Sobre esses eventos, Fernando Pessoa, acredito eu, escreveu a frase poética mais importante do português, a qual eu destaco sublinhando, em minha insignificante opinião.

“Valeu a pena?

Tudo vale a pena se a alma não é pequena.

Quem quer passar além do Bojador, tem que passar além da dor.”

Laguna Vale a Pena.

Na opinião dos meus amados leitores, concluo que Laguna é uma cidade abençoada, situada no meio de uma rota de riqueza, como se fosse aquela  Constantinopla lá do século XV, hoje,  aqui no século XXI.

Bem situada geograficamente, no centro do burburinho de uma região de pouco mais de 400.000 habitantes, região industrializada, turística, centro educacional e de tecnologia, comércio movimentado, autossuficiente em agropecuária, suprida de excelentes estradas asfaltadas , dois portos marítimos e um aeroporto de alcance nacional, exportadora  em produção de energia e com excedente para alimentar uma vasta região do país

Das cidades da região é a mais bela de todas, de paisagem exuberante onde o Oceano Atlântico pela última vez vai brincar com rochedos brutos e recortados, que dão à paisagem uma renovação que foge à monotonia de refinada beleza, que praticamente se encerra no Cabo de Santa Marta.

Dezenas de praias de areias brancas e finas, deleite de uma vasta população de vizinhos que vêm aqui relaxar no calor do verão, além de los Hermanos de Argentina e Uruguai.

O mar é pródigo em pescados, fartos e variados, peixes e crustáceos. Lagoas e rios complementam as paisagens paradisíacas, dando à Laguna a condição inquestionável de “Sua Majestade, a Rainha do Sul.”

O povo é honesto e de bom caráter, honrado com seus compromissos, ponto alto para a tranquilidade dos comerciantes e uma invejável paz de convivência.

Mas, quem sabe, pelo seu jeito correto de ser, aprendeu a julgar a todas as pessoas por este mesmo escopo.

Daí, é que costuma confiar nas pessoas, como todas honesta, em princípio e, injustamente, ser aprisionado em armadilhas.

Laguna é velha e sábia, moça e incauta, que confia demais e se descuida às vezes.

Talvez, de tanto receber de graça da Providência Divina, acostumou-se a não cobrar dos outros os cuidados que lhe devem, com seu patrimônio Histórico, sua história guerreira, seus mitos e lendas, sua cultura e seu folclore e, principalmente, ao seu sacrossanto sistema ambiental.

Quem sabe Laguna precise baixar um pouco a cabeça, e contritamente, fazer o seu “mea culpa”, o seu autoexame dos erros e omissões que comete contra si mesma.

Peca pelo abandono das lagoas poluídas, o imperdoável pecado da morte dos botos, os seus descuidos com saúde, a educação e a segurança. Sua tolerância demasiada com pessoas inadequadas (para ser leve) que a exploram e desprezam.

Laguna peca por ser uma cidade sem autoridade, uma cidade sem lei.

Peca pela ambição de alguns empreendedores que visam apenas seu lucro impiedoso, devastando a paisagem urbana com um desequilíbrio insano.

Peca pelo total desamor de alguns políticos, que vendo a própria mãe morrer, ainda lhe avançam no peito para sugar o último leite.

Mas se você daí de alguma cidade distante, querendo investir em Laguna nos perguntasse:

– LAGUNA VALE A PENA?

– Vale! E como vale! Laguna é uma cidade moderna, mas ainda com requintes de aldeia.

Boa para viver e prosperar, respirar o ar mais puro, para educar os filhos em liberdade, para ficar em paz com a natureza e com Deus.

A partir de hoje passamos a ter um hospital mais seguro, com instalação de UTI, tem boa e fácil comunicação com centros maiores, tem boas escolas para seus filhos, uma Universidade (UDESC): Tem a alma de sua filha Anita Garibaldi, “Heroína de Dois Mundos”, um belíssimo parque histórico para visitar, excelente culinária e recursos à mão, a cidade tem custo de vida baixo, ainda é uma cidade tranquila com relação a outras do país, o clima é excelente, com predomínio anual de dias ensolarados, um paraíso para se viver, um ótimo lugar para investir, posto que será no futuro que já é, a melhor cidade para acolher pessoas.

Por incrível que pareça Laguna é a cidade com maior perspectiva de futuro na região sul de Santa Catarina.

Ah! Tem mais. Tem 344 anos de experiência em acolher pessoas.

Temos é que nos unir, como nossos ancestrais o fizeram e enfrentar nossas pedras do caminho.

Sem medo e com devoção, trabalho e sacrifício, diálogos e enfrentamentos, mas com força, vigor, autoridade.

Encerro, afirmando que podemos entregar uma Laguna melhor aos nossos descendentes.

Uma Laguna confiável ao investidor consciente e coerente com nossa realidade.

Não tenha medo da dor, se quiser passar além do Bojador.

Tudo vale a pena se a alma não é pequena.

Márcio José Rodrigues

 

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