Leonardo Boff

Por que a Igreja oficial reluta a discutir a sexualidade e a lei do celibato

Temos a ver com uma realidade misteriosa e extremamente complexa. A reflexão oficial até hoje não se confrontou positivamente com aqueles que detidamente pesquisaram a sexualidade como Freud, Jung, Adler, Fromm, Winnicott, Lacan, Rollo May, Simone de Bouvoir, Ana Freud, Rose Marie Muraro, Janette Paris entre tantos e tantas. Teria muito que aprender destas contribuições, sem renunciar às eventuais críticas. De modo geral podemos dizer que a Igreja oficial e mesmo a própria teologia não elaboraram uma leitura e um ideal, digamos até, uma utopia para a sexualidade humana. O que houve sim, foi muito moralismo que trouxe e ainda traz angústia e sofrimento para os cristãos que querem orientar suas vidas pelo caminho cristão. O documento do Papa Francisco Amoris Laeticia (A legria do amor) delineia alguns pontos luminosos nesta linha. Mas devemos ir mais longe e mais fundo.
O pensador francês Paul Ricoeur que muito refletiu filosoficamente sobre a teoria psicanalítica de Freud escreveu: “A sexualidade, em seu fundo, permanece, talvez, impermeável à reflexão e inacessível ao domínio humano; talvez essa opacidade faz com que ela não possa ser reabsorvida numa ética nem numa técnica” (Revista Paz e Terra n. 5 de 1979 p. 36). Ela vive entre a lei do dia onde vigoram os comportamentos estatuídos e a lei da noite onde funcionam as pulsões livres. Só uma ética do respeito face ao outro sexo e um auto-controle permanente sobre essa energia vulcânica, podem transformá-la em expressão de troca afetiva e de amor a dois e não numa obsessão e numa perversão.
Sabemos como é insuficiente a educação para a integração da sexualidade na formação dos padres nos seminários. Ela é feita longe do contacto normal com as mulheres, o que produz certa atrofia na construção da identidade. Por que Deus criou a humanidade, enquanto homem e mulher (Gn1,27)? Não primeiramente para gerarem filhos. Mas para não ficarem sós e serem um vis-a-vis uma ao outro e companheiros na diferença (Gn 2,18).
As ciências da psique nos deixaram claro que o homem só amadurece sob o olhar da mulher e a mulher sob o olhar do homem. Homem e mulher são em si completos, em cada um há a porção masculina e feminina, embora em proporções diferentes. Mas, por sua natureza, são recíprocos e se enriquecem mutuamente na diferença.

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